Viagens no coração


Todos os dias volto aqui, a estas terras. Uns dias vou e fico por mais tempo, viajo por lá, olhando as gentes, as cores, a terra, sentindo cada cheiro, cada raio de sol. Viajo até Moçambique, até à missão que vivi. Sonho com os dias que ali passei, com as alegrias e os dissabores, com o vento que me batia na cara, com as orações, com os missionários, mas acima de tudo com os rostos daquele povo. Aqueles sorrisos, aqueles testemunhos de vida. Quando olho para a minha vida cá, não consigo encontrar fusão do estilo de vida de lá, simples, desapegado, puro, com as correrias de cá, as manias, os luxos, os excessos. A Ana que viveu ali aquele mês não se encontra neste mundo de cá, do nosso Portugal. Não corresponde.. Por mais que queira, por mais que me esforce. Estou demasiado ingressada no mundo louco de cá, sinto demasiado stress nos meus compromissos, sinto o peso das responsabilidades que tenho e que nem sempre cumpro como devia. Sinto-me desintegrada por vezes. Como se houvesse duas Anas: a Ana de Lisboa, do doutoramento, da paróquia, dos amigos, das danças, do corropio, do trânsito... e a Ana do espiritual, da fé, de áfrica, da missão. Sonho com um mundo em que estas duas se juntam, se conhecem e se fundem numa só. Luto por isso, umas vezes com mais empenho do que outras, mas parece que falho sempre. Parece que me vejo a falhar muitas vezes nos ultimos tempos. Será que perdi alguma coisa na cabeça (e no coração) nos últimos anos?
Todos os dias volto a estas terras, a estas paisagens, a estas pessoas. Todos os dias volto, na tentativa de que a Ana de cá se encontre com a Ana de lá e se fundam numa só. Serei algum dia capaz de me sentir assim completa (e tranquila)?


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